Você acorda e pisa em uma barata morta no pé da sua cama. Na porta, a te olhar, está quem trouxe o mimo: o gato. Lambendo as patas, satisfeito, como quem diz: "Olha que belo serviço eu fiz enquanto você estava aí dormindo". Sua vontade é de sair correndo pra lavar o pé. Mas o que você faz, antes disso, é um cafuné na cabeça do seu caçador, agradecendo. Pessoas comuns podem achar isso estranho, mas você, dono de gato, sabe: O bichano acabou de dizer que te considera pra caramba!
Essa cena resume bem a vida de um gato. As vezes, você pode até pensar que ele te despreza (ah, porque você me ignora quando eu mais quero?!). Ou achar que ele é sádico (que prazer é esse em afofar meu rosto com as suas garras?!). Ou mesmo sentir que ele está secretamente tramando contra a sua vida (porque colocar uma barata morta no meu travesseiro, se não pra me matar do coração?). Mas na verdade, ele só está querendo dizer que te ama, ou não, porque viver em estado de suspense é uma das grandes graças de ter um bichano mesmo.
Ter um gato é um exercício emocional de desapego. Na vida, a gente tende a esperar que aqueles que amamos, de qualquer espécie, correspondam as nossas expectativas, preencham as nossas carências, estejam sempre disponíveis e concordem com tudo. Um gato te ensina que não é bem assim. Para ele, é perfeitamente possível adorar, se divertir, trocar mil carinhos, fazer companhia, mas cada um é cada um, com seus tempos, humores, desejos, e amar não significa possuir.
Tem gente que não fica tranquila com tanta vontade própria, e confunde a independência felina com desamor. Mas só quem tem gato sabe o que é o conforto de um peso peludo ronronando na sua barriga. Só quem vive com um gato sabe da admiração que ele desperta. E só quem já encontrou o gato dormindo entalado em uma caixa entende esse senso de humor peculiar. Gato é antídoto para o tédio. É o melhor exemplo de como somos mais felizes quando nos preocupamos menos com o que os outros pensam.
